COBRANÇA PATERNA

Por Gustavo do Carmo


— Filho, você não vai se inscrever no concurso para o Tribunal de Contas?

— Pra quê, se eu já publiquei vinte livros, dos quais quinze ficaram na lista dos mais vendidos durante cinco anos, ganhei diversos prêmios literários, entre eles um Pulitzer, um Booker Prize e o Nobel de Literatura, sendo o primeiro brasileiro a obter tais nomeações? Além de tudo isso, os meus direitos autorais já me renderam cinco milhões de dólares.

— Acontece que depois de tudo isso o senhor não escreveu mais, seus livros já foram esquecidos pelo mercado, ninguém se lembra mais de você e ainda gastou os seus cinco milhões em excentricidades. Já faz trinta anos que perdeu tudo o que arrecadou e voltou a viver às custas da nossa aposentadoria. Eu e sua mãe já passamos dos cem anos e não temos mais como te sustentar. O senhor faça o favor de estudar para um concurso público ou arrumar um emprego qualquer porque eu não vou mais sustentar vagabundo!

E aos setenta e cinco anos, o ex-escritor Paladino Gonçalves se inscreveu no concurso público para auxiliar administrativo do Tribunal de Contas. Ficou em quadragésimo lugar. Quase foi chamado. Perdeu a vaga, no critério de desempate, para um candidato cinco meses mais velho.

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