DOIS CENTÍMETROS DE ALTURA

Por Ed Santos

A Marta trabalhava fora desde que se formou. Estudou muito, ralou até e nunca ligou muito quando as pessoas ficavam enchendo o saco dela por ela ser a única mulher da turma de engenharia Civil. O pai não concordava com a opção da filha e queria que a moça fosse professora. Isso sim era profissão de mulher. A mãe, torcia pra que ela escolhesse a vida de dona de casa. Queria ver a filha casada e com uns três filhos. Queria que aos domingos os netos fossem almoçar em sua casa e que ao final do dia tomassem um chá. Mas a vida acadêmica levou a menina para as carteiras universitárias.

A mãe fazia uma marmitinha com todo carinho todos os dias. Era aquele capricho. Mas isso era na época do estágio. Uma coisa que a Marta sempre fazia com gosto era almoçar fora e quando terminou o estágio e ela foi efetivada, deixou de lado a marmitinha que a mãe fazia. Não porque era ruim, nem porque ela já estava enjoada, mas é que não teria que levar uma bolsa numa mão e uma sacolinha na outra. Sem contar que iria almoçar num restaurante diferente todo dia. Poderia escolher a porta que bem quisesse entrar, e lá dentro escolher o que bem quisesse comer. Além do mais não teria que lavar nenhum potinho de plástico logo depois do almoço naquela pia surrada do refeitório da empresa. E depois lavar novamente em casa pra preparar todo de novo pro outro dia.

Mas essa coisa de ir almoçar fora começou a incomodar a Marta. Ela estava ficando enjoada das comidas servidas nos restaurantes da região e torcia pra ter uma reunião na sede da empresa na zona sul. Lá sim e que as coisas eram boas. Quando tinha que ir lá ela ficava deslumbrada com os restaurantes e com a gastronomia. Mesmo tendo várias opções ela e o pessoal da sede sempre iam almoçar numa churrascaria ali perto. Eram sempre bem servidos e o ambiente era muito aconchegante. O tempero era fino e o atendimento perfeito.

Um dia o churrasqueiro que era um senhor simpático e que deixava as carnes no ponto, faltou. Pra suprir a falta do funcionário o dono da churrascaria, uma italiano gordo e risonho colocou lá na beira do fogo um jovem que pelo serviço prestado não entendia nada de churrasco. A Marta como de costume pediu uma “tirinha” de alcatra bem fininha, e já ficou logo insatisfeita com a falta do sorriso e da simpatia do churrasqueiro. Só quando sentou-se ao lado do pessoal da sede que percebeu os dois centímetros de altura do bife que o rapaz botou no seu prato. Aquilo parecia uma afronta para uma moça que sempre quis comer bem. Ah! Que saudade da comidinha caseira, e do bife bem passado que a mamãe fazia.

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