Conto
de Gustavo do Carmo
— Oi?
— Oi.
— Tudo bem?
— Tudo bem.
— Como vai a família?
— Bem.
— Tem certeza?
— Claro que sim.
— Não parece.
— Por quê?
— Pela sua voz, sua
fisionomia cansada.
— E vai adiantar se eu
disser que não está, a não ser te tomar mais tempo?
— Claro que vai. Eu posso
te dar uma força.
— Ah, não precisa. Você
não será capaz de resolver os meus problemas.
— Então não está nada bem.
— Não. Não está.
— O que houve?
— Meu pai está falido.
Minha mãe doente. Minha irmã está se separando do marido. E eu estou
desempregado.
— É. Realmente não está
bem mesmo.
— Pois é. Por que, então,
queria saber dos meus problemas?
— É porque todo mundo diz
que está bem quando, na verdade, não está. Fala isso para não prender os
outros com os seus problemas. Prazer, sou psicólogo.
—
Eu não falei que você não seria capaz de resolver os meus problemas?
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