MORAL



Conto de Gustavo do Carmo


Passava pela porta da igreja quando uma mendiga, suja e de cabelos desgrenhados, gritou com voz sôfrega:

— Moço, dá uma ajuda aí?


Adalberto, um forte garotão, mal-humorado e esnobe, esbraveja:

— Vai trabalhar, vagabunda!!!
— “Vai tu, meu sinhô. Ao invés de ir pá praia”.
— Mas eu estou de férias!
— “Mintira! Há anos qui eu vejo tu passando por aqui com essa sunga e essa prancha”.

Adalberto engoliu em seco. Pensou em mandar a mendiga para aquele lugar. Mas ficou quieto. Seguiu seu caminho e entrou na rua transversal, a que dava na praia. Nunca mais foi visto pela pedinte. Com roupa de praia.

Ela só tornou a encontrá-lo, semanas depois. Adalberto vestia terno e gravata, estava de cabelo penteado e carregava uma pasta executiva com uma mão e com a outra segurava um moderno celular junto ao ouvido.


Passou pela mendiga, jogou um maço de notas no prato que ela usava para pedir esmola e seguiu o seu caminho. Entrou na rua transversal. Oposta à da praia. 

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