A LENDA DA ALDEIA




Conto de Weverton Galease 
  
As mulheres da aldeia não engravidavam e tiveram a ideia de recorrer aos poderes de Justus. Juntaram-se em círculo ao redor da árvore sagrada, tendo o cuidado de manter as costas voltadas para o tronco. Não ousavam olhar a grande planta, pois, os que olhavam Justus de frente enlouqueciam e morriam. Suplicaram-lhe filhos e ele quis saber o que teria em troca. Cada uma prometia o que o marido tinha para dar: milho, inhame, frutas, cabritos e carneiros. 

  Uma delas, chamada Rubi, era a mulher do entalhador e seu marido não tinha nada daquilo para oferecer. Desesperada, prometeu dar a Justus o primeiro filho que tivesse. Nove meses depois a aldeia alegrou-se com o choro de muitos recém-nascidos e as mães foram levar a Justus suas oferendas. Rubi contou a história ao marido, mas não pôde cumprir sua promessa. Ela e o marido apegaram-se demais ao menino prometido. 


  No dia da oferenda, Rubi ficou de longe, segurando nos braços trémulos, temerosa, o filhinho tão querido. O tempo passou e ela mantinha a criança longe da árvore. Mas um belo dia, passava Rubi pelas imediações do Justus, quando, no meio da estrada, bem na sua frente, saltou o temível espírito da árvore. Disse Justus: “Tu me prometeste o menino e não cumpriste a palavra dada. Transformo-te então num pássaro, para que vivas sempre aprisionada em minha copa.” Transformou Rubi num pássaro que voou para a copa de Justus para ali viver para sempre.

  O entalhador a procurou, em vão, por toda parte. Todos os que passavam perto da árvore ouviam um pássaro que cantava, dizendo o nome de cada oferenda feita a Justus. Até que um dia, quando o artesão passava perto dali, ele próprio escutou o tal pássaro, que cantava assim: “Uma prometeu milho e deu o milho; Outra prometeu inhame e trouxe inhames; Uma prometeu frutas e entregou as frutas; Outra deu o cabrito e outra, o carneiro, sempre conforme a promessa que foi feita. Só quem prometeu a criança não cumpriu o prometido.” 

 Ouvindo o relato de uma história que julgava esquecida, o marido de Rubi entendeu. Sim, só podia ser Rubi, enfeitiçada por Justus. Ele tinha que salvar sua mulher! Mas como, se amava tanto seu pequeno filho? Foi à floresta, escolheu o mais belo lenho de Justus, levou-o para casa e começou a entalhar. Da madeira entalhada fez uma cópia do rebento, o mais perfeito boneco que jamais havia esculpido, com os doces traços do filho, sempre alegre, sempre sorridente. Poliu e pintou o boneco com esmero, preparando-o com a água perfumada das ervas sagradas. Vestiu a figura de pau com as melhores roupas do menino e a enfeitou com ricas jóias de família e raros adornos. Quando pronto, ele levou o menino de pau a Justus e o depositou aos pés da árvore sagrada. 

  Justus gostou muito do presente, o menino que tanto esperava! Sorria sempre, jamais se assustava quando seus olhos se cruzavam. Não fugia como os demais mortais, não gritava de pavor e nem lhe dava as costas, com medo de o olhar de frente. Embalando a criança, seu pequeno menino de pau, batia ritmadamente com os pés no solo e cantava animadamente. Devolveu a Rubi a forma de mulher que, aliviada e feliz, voltou para casa e para o marido artesão e o filho, já crescido e livre da promessa. Dias depois, os três levaram para Justus muitas oferendas. Levaram ebós de milho, inhame, frutas, cabritos e carneiros, laços de tecido de estampas coloridas para adornar o tronco da árvore. Eram presentes oferecidos por todos os membros da aldeia, felizes e contentes com o retorno de Rubi. Até hoje todos levam oferendas a Justus. Porque Justus dá o que as pessoas pedem. E todos dão para Justus o prometido.

Postar um comentário

0 Comentários