Você coloca um ponto final no seu
sonhado romance e... aí depende. Se você for famoso ou amigo íntimo, parente ou
cônjugue de algum editor de editora, a obra já estará nas livrarias em no máximo um
mês. Mas se for um mero desconhecido e estiver querendo publicar o seu primeiro livro vai ter que esperar
muito mais tempo... para ter uma resposta. E provavelmente negativa.
As editoras, com a velha desculpa
de que só investem naqueles autores que dão
lucro certo, só aceitam facilmente os originais (como são chamados os rascunhos
de texto dos escritores) de gente famosa e amigos.
Para dizer que são democráticas elas
aceitam originais de novos autores. Mas vêm impondo condições cada vez mais
absurdas e assumem na cara-de-pau que não são obrigadas a responder.
A maioria só aceita originais
impressos. Se o seu livro tiver muitas páginas você pode gastar meia resma de
papel e meio cartucho de tinta, além de pagar o envio pelo correio (caso a
editora fique em outra cidade), para não ter resposta ou receber uma carta com
palavras falsamente elogiáveis e lamentáveis (que contêm lamentação, não apenas
no sentido de revoltantes). Nem sequer se dão ao trabalho de devolver. Só de
destruir para você quando não aceita.
Revoltantes mesmo são outras
exigências que fazem quando algumas aceitam pela internet: pedem preenchimento
de formulário com resumo da história (se é um livro com 20 contos eu tenho que
fazer resumo dos 20? E se pedem resumo é porque não estão com o mínimo
interesse de ler), público-alvo do livro, texto em fonte Times New Roman
tamanho 12 e duplo espaço. Teve até uma que pediu para descrever o que você
espera do livro, pergunta típica de empresa de recursos humanos.
Uma vez tive um trabalhão para
preencher o burocrático formulário de uma dessas e o navegador atualizou-se automaticamente.
Tive que começar tudo de novo. Recomecei só em outro dia. Meses depois a editora aprovou
os originais. Mas quis me cobrar 13 mil reais. Na verdade, era o custo da
compra de 500 livros. Recusei.
Outra exigiu o formulário e os originais em PDF. A sorte é que um dos
meus originais estava no arquivo desejado, mas porque eu só converti para
vender numa editora virtual. Mandei o outro em Word mesmo, com a maior bronca
no e-mail.
Concordo com as editoras que pedem o registro
na Biblioteca Nacional. Só não concordo com as editoras que usam o perigo de
plágio para justificar o não recebimento de originais por e-mail. Ora, se o
texto está registrado, qual o perigo?
Impresso ou não, quem vai plagiar,
vai plagiar se não estiver registrado. E se estiver copia a ideia, já que ideia
não caracteriza plágio. E não duvido nada que muitas editoras usam essas ideias
para os seus autores apadrinhados.
Quando eu tentava publicar o meu primeiro livro até aceitava esses processos
burocráticos e arrogantes de avaliação de novos originais. Era muito ingênuo. Já imprimi uma resma
inteira de papel, gastei um cartucho inteiro para imprimir duas cópias do meu
primeiro romance e mandei para duas editoras (uma era do Rio, mas eu estava em
Cabo Frio), pagando duas taxas de Sedex. Depois mandei para uma terceira
editora. A de São Paulo (Companhia das
Letras) não me respondeu. Uma do Rio
(Record) me mandou aquela carta com palavras lamentáveis e outra daqui
(Rocco) me sugeriu ir buscar pessoalmente. Fui até o Cosme Velho e encontrei o
meu original intocado, sem qualquer anotação. Se eu fosse fazer um exame de
impressão digital, acho que iria encontrar só as minhas ali.
Poucos anos depois, agora com uma
coletânea de contos, fui pessoalmente à Rocco, já em outra sede: um escritório
dentro de um moderno arranha-céu na rua Presidente Wilson. Enfrentei um vento
forte vindo da região do Castelo na longa e demorada fila para pegar o crachá
de acesso ao edifício. Lá em cima, depois de uns dez minutos de espera, ouvi
que eles não publicavam contos. Meses depois ela publicou uma coletânea de contos
da já famosa Patrícia Melo.
Já me decepcionei com as duas editoras que publicaram os meus livros. Uma de São Paulo até se esforçou para divulgar e distribuí-lo,
mas revisou mal e nenhum dos sócios se deu ao trabalho de vir ao Rio. Até que
vendeu razoavelmente. A outra, carioca, sequer deu entrada no ISBN, me entregou os convites para o
lançamento na véspera do evento, não distribuiu, fez uma revisão péssima e
ainda se fez de ofendida quando reclamei.
As editoras que cobram para
publicar também têm o seu exemplo de arrogância. Estava
quase acertando a publicação do meu livro de contos com uma dessas até eu questionar o alto preço,
não da impressão, mas da divulgação e da conversão para o formato digital.
Estava sendo atendido por uma simpática funcionária de relações públicas.
Exigi um bom serviço, reclamei
nominalmente da editora que publicou o meu segundo livro e brinquei dizendo que, pelo preço da assessoria, eu
merecia uma entrevista no programa da Fátima Bernardes, mas disse sério que até
eu faria a conversão. O editor (ex-sócio da editora que publicou o meu primeiro livro) tomou a frente da negociação para me responder com
sermões, como se estivesse dando um esporro em um
subalterno fofoqueiro e não conversando com um potencial cliente. Disse que eu
não valorizo os profissionais, exigiu que eu não mencionasse nomes de outras
empresas e esclareceu (como se eu tivesse pedido o esclarecimento) que a Fátima
só divulga livros por interesse da produção.
Se ele já trata um cliente desta
forma antes de assinar o contrato, imaginei como seria a edição do meu livro.
Cancelei a negociação, falei umas verdades para ele sobre a outra editora e que
o meu dinheiro não é lixo, bloqueei essa nova editora no Facebook e só não o mandei para
aquele lugar porque eu me controlei. E danem-se aqueles que acharem que eu fui
infantil ou que estou sendo infantil ao escrever esta crônica. Não aguento mais
ver artistas e amigos dos editores fazendo sucesso com os seus livros bem
divulgados. Desisti. Não me humilho mais
para pedir editora, mas faço questão de humilhar editora arrogante.
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