Neve: Parte 4/5


Um grande monstro metálico se ergueu atrás dela. Ela conseguiu sentir seu hálito quente. Não se virou. Não se apavorou. Ele era familiar. Olhava para ela como se esperasse uma resposta, um cumprimento. Alguma reação.


“Você está sorrindo.”

O monstro levantou as sobrancelhas, sobressaltado.

“Como sabe?”

“Porque eu te conheço.”

A moça olhou com ternura para o gigante de metal. Ele fez o mesmo com um grande sorriso.

“Sério. Não devia me reconhecer.”

“É verdade, mas sinto como se o conhecesse... É estranho.”

Os dois ficaram em silêncio por um momento. Ela ajeitou o casaco. Observou a paisagem. O gigante se sentou do lado dela.

Uma brisa forte passou por eles. Entreolham-se. Ela fica extremamente séria. O gigante não sabe o que fazer. Arregala um pouco os olhos de vidro, sem saber o que está por vir.

“Qual é o meu nome?”

“Por que quer saber, querida?”

“É meio óbvio, não é?” Ela volta seu rosto para o lago. “Todos têm um nome, não têm?”

“Nem todos. Veja os animais, por exemplo...”

“Você entendeu o que eu quis dizer!”

Ele dá um sorriso sem graça. E mais um silêncio fica entre os dois. Porém a garota não quer conflito com o tal amigo.

“Então, qual é?”

“O seu nome? Eu não sei. Você também não sabe. Mas acho que ter um nome não vai fazer muita diferença.”

“E você? Tem um?”

“Plutão!”, diz o gigante feliz, erguendo as mãos. “Dado pelos meus criadores em homenagem ao planeta.” De repente uma grande tristeza o abate. “Mas como eu disse, não diz nada sobre mim. Quer saber o que eu penso disso tudo?”

Ela espera que ele responda a pergunta. Ele não faz.

“Fala, então...”

“Você está perguntando as perguntas erradas.”
“Então tá! E quais são as corretas, meu senhor?”

“Deixa eu pensar, querida... Humm... O que está fazendo aqui? Por que escolheu esse lugar para sonhar? Ao invés da neve escolheu um lago, por quê? Quem é você realmente? O quê é você? Será que não deveria estar mais preocupada em não morrer de frio? Será que...”

Um estalo faz tudo começar a tremer. Um ronco. Mas um ronco de quê? De um leão, de um urso? Não, era mais mecânico. O cheiro nauseante penetra em suas narinas. Gasolina? Com certeza. Ela ainda sonha. É confuso. Os sons e a tremedeira param. Silêncio. Gasolina. Passos sufocados pela neve. Degraus rangendo.

Seus olhos se abrem e ela vê uma silhueta.


Parte 4 do conto de Lucas Beça

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