OBRIGADO, MIGUEL! O JARDINEIRO DE UM CLUBE EM GUARUJÁ

Flagrante de Madame Magda numa pausa de folgedos
eróticos na sua mansão, 
enquanto o carnaval explodia na Av. Paulista.


E virou jardineiro dos bons. Meio sem graça na terra dos outros. Então cismou, queria um pedaço de terra para ele. Qualquer pedaço. O mundo era grande. Alguma devia ter por aí, esperando por ele.
Aí, então... então apareceu Madame num domingo de Carnaval. Que fruta rara! Lindura maior nunca vira, maior que o alvoroço dos aviões no céu. Brilhavam os olhos verdes igual alface até mais que o metal voador ao sol. Sinhá olhava ele parecendo querer abocanhar. Assim que ficou claro o que ela queria, ia negacear? Sem mais porquês foi atrás dela com a roupa do corpo: o uniforme de jardineiro. Uniforme! Uniforme era sinal de obediência cega ao que dá na telha dos mandantes, coisa prometida nunca mais. Verdade que agora obedecia - assim, por dizer - aos gostos da lady, mas de forma diferente. Neste caso foi mais cômodo obedecer. Eram desfrutes divertidos. Ela o mimava com presentes e borós que ele não gastava em besteiras, não. Guardava direitinho até virarem contos. Dia viria e estaria pronto para comprar sua terrinha. Só dele e das verduras, plantas. Algumas galinhas, bichos variados... um sítio, assim o chamego com a lady terminar. Terminar? Lembrou o verso que roubou dela: "regaço sólido que sacia quente / minha doce febre. / Pelo e pele / solidez incauta / balanço e aconchego / de meus peitos". Aquele namoro não estava ficando chameguento demais? Tem ditado que diz amor demais enjoa, como o alimento mais gostoso embrulha o estômago, quando comido sem moderação.
Será mesmo, crioulo?
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(Extraído do romance 'A Cena Muda' - Copyright Miguelaf)

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