MOÇA BONITA DO VESTIDO FLORIDO


Conto de Gustavo do Carmo

Moça bonita parada no ponto de ônibus em Copacabana. Estava de vestido de alcinha florido. Branca, magra, cabelos curtos, mas femininos. Cortado à altura dos ombros. Do jeito que eu gosto. 


Tive o receio de que ela fosse do tipo Raimunda, feia de cara e boa de... você sabe! Mas não era. Era bonita de rosto, sim! Aliás, sou mais chegado aos seios do que ao traseiro. Não consegui reparar no seu peito. Precisava ser discreto, não olhar muito. Então, não lembro direito se eram grandes ou não. Acho que eram médios. 

Voltei a ficar atrás dela. Ela de costas para mim. Costas brancas e lindas, deixando à mostra uma alça do sutiã azul que usava. Ela esperava pelo ônibus, impaciente. Eu também. Ficou um tempão. Eu também. Segurava impaciente uma bolsa de butique. Deve ter comprado outro vestido florido. Teve um momento em que ela colocou a bolsa de butique no chão da calçada. 

Foi aí que eu comecei a ter fantasias. Não as sexuais (por enquanto), mas as sentimentais. Pensei em lembrá-la da bolsa no chão. Pensei nela agradecendo e depois nós nos conhecendo, conversando, trocando e-mails e telefones... A gente saindo. Indo ao teatro ou ao cinema. Indo ao motel. Transando, finalmente. 

Fantasiei, também, com ela conhecendo a minha família e eu conhecendo a dela. O nosso noivado. O nosso casamento. Os nossos filhos. Até as nossas brigas. 

Como será o seu gênio? Pelo que eu vi dela no ponto, parecia ser enfezada, nervosinha. Requer cuidado. Mas esperando um ônibus em Copacabana por um tempão, qualquer um vira uma pessoa enfezada e nervosa. Vai que ela seja um doce. 

Será que ela tem TPM com freqüência? Será que ela gosta de ajudar os outros? Será que os pais dela são ricos? Será que ela já trabalha? Onde será que ela estuda? O que ela estuda? Jornalismo? Arquitetura? Engenharia? 

Ao mesmo tempo, pensei no pior: ela poderia estar falando com o namorado ao celular quando deixou a bolsa no chão. E se eu a lembrasse da bolsa no chão, poderia estar passando por idiota. Afinal, ela sabia e não era cega. 

Pela demora do nosso ônibus imaginei que ela estivesse esperando a mesma linha do meu. Imaginei-a indo para Bonsucesso também. Ou até para a Penha. Repeti todas as minhas fantasias sentimentais, românticas e sexuais. Todas as minhas ilusões. 

O ônibus chegou. O meu. Subi no meio da multidão. A moça bonita do vestido florido não entrou. Meu ônibus não serviu para ela. Ela ficou parada no ponto. Dobrei o pescoço para trás mas não deu para ver seu rosto. Ela tinha baixado a cabeça e os cabelos cobriam seus olhos. Nunca falei com ela. Não sou sedutor barato. Sou mesmo um bobo. Nunca mais a vi.

Postar um comentário

0 Comentários